domingo, 8 de abril de 2012

Curitibano só quer saber de futebol.

Levantamento mostra que a relação da cidade com os esportes é de distanciamento. Bola rolando nos gramados é a única exceção.

Walter Alvez/Gazeta do Povo
Walter Alvez/Gazeta do Povo / O futebol é acompanhado de perto por 54% dos moradores da capital paranaense
O futebol é acompanhado de perto por 54% dos moradores da capital paranaense

Miguel Rojo/AFP
Miguel Rojo/AFP / Neymar é o atleta com quem os curitibanos mais simpatizam, deixando para trás César Cielo e Giba
Neymar é o atleta com quem os curitibanos mais simpatizam, deixando para trás César Cielo e Giba

O curitibano tem uma relação estranha com o esporte. Ao todo, 63% da popula­­ção da cidade admitiu ser sedentária, ou seja, não pratica nenhuma modalidade esportiva. E mais. Um terço dos moradores (33%) afirmou dar de ombros para todas as modalidades, sem interesse algum em acompanhar jogos, lutas, corridas... em nenhum tipo de mídia.

O mesmo raciocínio vale para a Olimpíada de Londres, com abertura em 27 de julho. 74% dos entrevistados disseram que o desempenho do Bra­­­­sil não afeta ou afeta um pouco no sentimento de nacionalismo. Os números fazem parte de um levantamento exclusivo feito pelo instituto Paraná Pesquisas pa­­ra a Gazeta do Povo.
“A gente não tem a mesma paixão [em Olimpíada] que o futebol desperta em uma Copa do Mundo. Algumas com­­petições atraem interesse durante os Jogos, mas depende muito da tevê, o que acaba sendo mais diluí­do”, explicou editor do site Má­­quina do Esporte, o jornalis­­ta Erich Beting.
A análise vai ao encontro com o que diz a pesquisa. Do pessoal que se interessa por esporte, mais da metade (54%) gosta de saber o que está acontecendo no fu­­tebol, especialmente com o seu clube do coração. “É uma tradição centenária no país inteiro. E tende a crescer mais com os clubes desco­­brindo como virar um produto atraente”, ressaltou Beting.
As outras mo­­­­­­dalidades estão muito distantes do interesse que despertam Atlé­­ti­­co, Co­­ri­­ti­­ba, Pa­­­­raná e cia. É o caso do vôlei, que, mesmo ganhando espaço, atrai a atenção de 14% dos moradores.
E aí surge um elemento novo, as lutas, ocupando o terceiro lugar no pódio. Capitalizados pela expo­­sição recente das Artes Marciais Mis­­tas (MMA), os fãs do ringue somam 5%, fechando o pódio de preferência do curitibano (leia mais nesta página), seguido de perto pelo automobilismo.
Os carros de corrida, inclusive, são alvo de uma interessante contradição. Mesmo sendo relativamente popular na cidade, o interesse local sobre a Fórmula 1 – a principal categoria do automobilismo –, divide-se entre pequeno (46%) e razoável (38%). Mas Felipe Massa é o quinto atleta mais admirado.
“Eles até queriam gostar mais, mas falta um grande ídolo, como foi Ayrton Sen­­na. Talvez se a pesquisa fosse feita mais perto do fim da temporada, houvesse o interesse maior, pois o povo ainda tem os dois anos de domí­­nio da Red Bull na cabeça”, afirmou Rodrigo França, colunista de Fórmula 1 da Ga­­zeta do Povo.
Em baixa, o basquete vê seu espaço minguar na cidade. Pouco mais de 1% afirma seguir a modalidade, a sétima na cidade. Tal decrés­­cimo tem como principal causa os tempos de crise, com o time masculino amargando um jejum de 16 anos sem jogar uma Olimpíada – marca que será quebrada em Londres.
“É uma realidade nacional. O basquete perdeu espa­­ço pela falta de resultados e pelas más administrações da confederação nos últimos 15 ou 20 anos. Até começou uma retomada, mas o tempo perdido não volta mais”, explicou José Roberto Lux, o Zé Boquinha, comentarista da ESPN Brasil.

Popularidade
Talento faz de Neymar o número 1 da cidade
Mesmo com poucos anos de carreira, Neymar, atacante do Santos, já é o atleta mais admirado em Curitiba. O garoto do moicano invocado agrada a 26% dos curitibanos. “É o mais popular do esporte mais popular”, resumiu o jornalista Erich Beting. “Ele é um cara que joga futebol brincando e o povo gosta”, completou Evandro Rogério Roman, secretário estadual de esporte.
O segundo atleta na lista de simpatizantes é o campeão olímpico e mundial de natação César Cielo, com 17%. Logo atrás, está o primeiro atleta paranaense, Giba, do vôlei. “O Giba é muito forte no Brasil inteiro, não só em Curitiba”, contou Beting. “É o maior jogador brasileiro de vôlei de todos os tempos”, elogiou Roman.
Anderson Silva, do MMA, vem logo depois, com 13%. “O Anderson Silva é um pouco como Guga e Senna. Muito bom em desempenho na mídia. Vai depender do esporte ter sequência”, afirmou Beting.
Apesar de estar em baixa, Felipe Massa é o preferido de 10%. “Mesmo com as críticas, ele tem um alcance de mídia maior que muitos esportes olímpicos. A Fórmula 1 tem um apelo diário e não sazonal, isso ajuda”, explicou o jornalista Rodrigo França.
Com ajuda da tevê, MMA ganha simpatia
As lutas são o terceiro esporte mais acompanhado pelos curitibanos. Um total de 5% da população diz segui-las de perto, principalmente depois do crescimento do carro chefe da modalidade, o MMA. “A Globo é muito forte e agora começou a passar lutas, o que faz com que mais gente se interesse”, afirmou o jornalista Erich Betting.
Curitiba é uma cidade com muita tradição nas lutas e terra de vários campeões como Maurício Shogun e Wanderlei Silva, e também onde o principal ícone da atualidade, An­­derson Silva, morou por muito tempo. “Curitiba é a meca dos grandes lutadores. A cidade tem muita tradição no esporte”, disse o secretário es­­ta­­dual do Esporte, Evandro Ro­­gério Roman.
O resultado da pesquisa em­­polgou quem é do meio. “Excelente notícia. Estamos em crescimento. Estamos entrando agora na tevê aberta.
A tendência é a gente se popularizar mais ainda”, afirmou o fundador da academia Chute Boxe, centro de excelência do MMA, Rudimar Fedrigo.
O MMA tem a simpatia de 38% da população e 23% diz acreditar que daqui a uns anos poderá ser até mais popular que o futebol. A euforia, porém, é freada por Fedrigo. “É um pouco forçado dizer que seremos o maior esporte do país. O futebol está mais enraizado na nossa cultura. Mas não é exagero que poderemos ser o segundo esporte nacional em breve, ainda mais que estamos apenas começando nossa popularização”, conclui.


Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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